Toda amizade verdadeira cria raízes.

O sol ainda nem tinha subido quando Chico chamou:
— Tintim! Acorda, vamos!
O cachorro abriu um olho, deu um bocejo e levantou abanando o rabo. Chico ajeitou a mochila, colocou o chapéu e apontou para o horizonte.
— Hoje a gente vai ver a árvore maior do mundo. Eu sinto que ela tá lá, esperando pela gente.
A trilha era longa. O chão coberto de folhas, o ar úmido, o som das águas correndo pelos riachos. Tintim ia na frente, farejando o caminho como se conhecesse cada passo.
— Cuidado aí, Tintim! — gritou Chico, rindo. — Você corre mais do que o vento!
De repente, o caminho ficou estreito, e as árvores começaram a se abrir em um clarão. Um raio de luz atravessou o céu e tocou o centro da floresta.
Ali estava ela.
Uma árvore tão alta que parecia abraçar as nuvens. O tronco era largo, coberto de musgos, e galhos imensos se espalhavam como braços abertos.
Chico parou, sem conseguir falar.
— É… ela é de verdade… — sussurrou.
Tintim latiu, animado, como quem dizia: “Eu te disse!”
Chico se aproximou devagar, encostou a mão no tronco e fechou os olhos.
Sentiu a vibração da madeira, o pulsar da vida que vinha dali.
— Você deve ser a árvore mais antiga do mundo, né? — disse com um sorriso. — E deve ter conhecido muitas outras.
O vento soprou forte, balançando as folhas num som que parecia voz.
Chico ouviu, no fundo do peito, um sussurro suave:
“Toda árvore carrega a lembrança de quem ficou.”
Ele abriu os olhos e olhou para Tintim.
— Acho que é dela que eu preciso levar um pedacinho.
Com cuidado, pegou uma pequena muda que crescia junto à raiz da árvore gigante.
— Eu vou levar você pra casa — disse, como se falasse com a plantinha. — Vai ser o amigo da minha árvore.
Tintim latiu, girando alegre ao redor dele.
O caminho de volta foi leve, cheio de risadas e passos firmes.
Quando chegaram ao acampamento, o pai de Chico esperava com o café pronto.
— Onde vocês se meteram, hein?
— A gente achou a maior árvore do mundo! — respondeu Chico, empolgado. — E trouxemos um amigo pra minha árvore do quintal.
O pai arqueou a sobrancelha, curioso.
— Um amigo?
— É — respondeu Chico, mostrando a muda com orgulho. — Agora ela não vai mais ficar sozinha.
Dias depois, já em casa, Chico ajoelhou-se no quintal.
A velha árvore continuava ali, firme, com um novo galho — forte o bastante para segurar o balanço.
Chico cavou um pequeno buraco ao lado e plantou a muda com cuidado.
Tintim, que agora vivia com ele, ajudava cavando com as patinhas.
— Pronto — disse Chico, limpando o suor da testa. — Agora vocês são duas. Uma que me segura, outra que me ensina.
O vento soprou leve, balançando as folhas das duas árvores.
Pareciam conversar.
Chico se sentou no balanço e olhou para o céu.
— Sabe, Tintim… acho que a floresta distante não era tão longe assim.
— Au! — respondeu o cachorro, abanando o rabo.
— Era só o caminho que faltava dentro da gente — completou Chico, sorrindo.
O balanço subiu e desceu devagar, com o vento cantando entre os galhos.
E, pela primeira vez, o quintal inteiro parecia respirar junto — como uma floresta que finalmente tinha voltado a dormir em paz.
Fim.
