O acampamento virou um convite para o desconhecido.

O fim de semana chegou com cheiro de terra molhada. O pai de Chico entrou no quarto com a mochila de camping nas costas e um sorriso no rosto.
— Pronto pra aventura?
— Sempre! — respondeu Chico, pulando da cama.
Enquanto guardava o lanche e a lanterna, Chico olhou pela janela. A árvore do quintal estava lá, firme, mas ainda parecia triste sem o balanço.
— Não se preocupa — disse ele baixinho, acenando. — Eu volto logo. E talvez com um amigo pra você.
O pai riu.
— Falando com a árvore de novo, rapaz?
— Ué, alguém tem que conversar com ela — respondeu Chico, ajeitando o boné.
A estrada era longa, e o carro subia as montanhas devagar. Chico colava o rosto no vidro, olhando o mundo correr lá fora. Campos verdes, vacas pastando, riachos brilhando como fios de prata.
— Pai, a gente vai acampar onde mesmo?
— Lá no fim da serra — disse o pai. — Tem uma floresta linda. Mas é longe… bem longe.
Chico abriu um sorriso.
— Uma floresta distante… acho que é lá que eu vou encontrar o amigo da minha árvore.
— Amigo da sua árvore?
— É. Toda árvore precisa de companhia, né?
O pai olhou de lado e deu uma risadinha.
— Então vamos ver se a floresta te ajuda nessa missão.
Quando chegaram, o sol já se escondia atrás das montanhas. O ar era fresco e o chão cheirava a folhas novas. Pássaros coloridos voavam de galho em galho como se estivessem dando boas-vindas.
Chico montou a barraca com cuidado.
— Aqui vai ser o nosso castelo! — disse, fincando a estaca com orgulho.
Depois, caminhou até a beira do rio que cortava o acampamento. A água corria rápida, cantando baixinho. Chico se abaixou, mergulhou as mãos e sentiu o frio que acordava a pele.
De repente, algo chamou sua atenção. No alto da colina, uma névoa cobria um grupo de árvores enormes. Elas pareciam se mover, mesmo sem vento.
— Pai, olha lá!
— Lá onde, Chico?
— Naquele morro! É a floresta distante!
O pai ajeitou o chapéu.
— Amanhã a gente vai até lá. Agora é hora de jantar.
Mas Chico não conseguia tirar os olhos daquelas árvores.
Elas pareciam vivas. Pareciam… estar chamando.
À noite, dentro da barraca, Chico ficou ouvindo os sons da mata.
Grilos, corujas, e o vento dançando entre as folhas.
— Você ouviu isso, pai? — perguntou, curioso.
— O quê?
— Parece que as árvores estão conversando…
O pai deu uma risada sonolenta.
— Deve ser o vento, Chico. Dorme, vai. Amanhã tem caminhada.
Mas Chico sabia.
Aquele sussurro suave dizia o nome dele.
Chamava baixinho, de longe.
E, pela primeira vez, ele sentiu que a floresta distante não era apenas um lugar — era um convite.
Um chamado para algo que ele ainda não entendia… mas que já o esperava.
Continua…
