Quando os pingos viram notas e a casa se transforma em orquestra.

A manhã acordou cinza outra vez.
As nuvens cobriam o céu como um cobertor pesado, e o som da chuva preenchia a casa inteira: plim-plim, plam-plam, tum-tum.
Chico estava sentado perto da janela, olhando as gotas caírem no vidro.
Pareciam pequenos músicos dançando ao som do vento.
— Ei… vocês estão tocando uma música? — perguntou baixinho.
A chuva respondeu com um plim! mais forte, bem no centro da janela.
Chico riu. — Então é um sim!
Curioso, correu até a cozinha. Abriu o armário e pegou tudo o que fazia barulho: panelas, tampas, copos e colheres.
Colocou tudo no chão e disse, com ar de maestro:
— Senhores e senhoras, a grande Orquestra da Chuva vai começar!
Primeiro, pegou uma colher e bateu de leve na panela.
Clim, clim, clim.
Depois, virou o copo de cabeça pra baixo e deu umas batidinhas.
Tom, tom, tom.
A chuva parecia acompanhar o ritmo, batendo no telhado em compasso.
Chico levantou as sobrancelhas.
— Acho que o céu tá tocando comigo!
Ele aumentou o ritmo, rindo sozinho:
— Um, dois, três e… plim, plam, tum!
Correu para a sala, pegou duas tampas de panela e começou a girar como um maestro de verdade.
— E agora, senhoras e senhores, o solo do trovão!
Como se o universo tivesse entendido o comando, um trovão respondeu lá longe:
— BUMMMMM!
Chico pulou de susto, depois começou a gargalhar.
— Uau! Esse foi o bumbo mais alto do mundo!
Continuou o concerto, batendo o pé, balançando o corpo, inventando melodias.
A chuva fazia o refrão.
O vento soprava as flautas.
E Chico, com suas colheres, regia o maior espetáculo da Terra.
De repente, Pé de Pano apareceu na porta da cozinha, com orelhas caídas e olhar curioso.
— Chegou o meu percussionista favorito! — disse Chico. — Quer tocar comigo, Pé?
Pé de Pano respondeu com um latido suave, que Chico interpretou como um “sim”.
Pegou uma tampinha de metal e colocou na frente dele.
— Pronto. Você faz o tlim-tlim, e eu faço o tum-tum.
Os dois tocaram juntos, entre risadas e trovões, até que a chuva começou a diminuir.
O som das gotas foi ficando distante, mais calmo, como se a orquestra estivesse se despedindo.
Chico parou, respirou fundo e olhou pela janela.
O céu ainda estava cinza, mas havia uma luz diferente por trás das nuvens.
— Acho que a chuva gostou da música — disse, sorrindo.
Pé de Pano se deitou aos seus pés, e Chico fez um carinho na cabeça dele.
— Sabe, amigo… às vezes o mundo fala com a gente. A gente só precisa escutar o som certo.
Lá fora, uma última gota caiu no parapeito — plim — como uma nota final.
Chico levantou a colher, fez uma reverência para o céu e sussurrou:
— Obrigado, maestro.
Continua..
