Até os mais valentes precisam dormir para continuar fortes.

Chico estava no tapete da sala, usando uma capa vermelha presa com um pregador de roupa.
— Pai! Olha eu! Sou um herói superforte! — gritou ele, levantando os braços.
O pai apareceu na porta com um sorriso.
Uau! Um herói desses precisa de muito poder, hein?
Chico bateu o pé no chão, fazendo pose.
— Eu tenho! Não canso nunca!
O pai se aproximou e se sentou ao lado dele.
— Nunca mesmo?
— Nunca! — repetiu Chico, correndo em círculos. — Heróis não cansam!
O pai colocou a mão no queixo, pensativo.
— Estranho… porque eu conheço vários heróis… e todos descansam.
Chico parou de correr na mesma hora.
— Quê?
— Todos. — disse o pai. — Os mais fortes, os mais rápidos, os mais valentes.
Chico apertou os olhos, desconfiado.
— Até o superforte?
— Até ele.
— O superveloz?
— Esse dorme cedo.
— O supercorajoso?
— Ah, esse dorme muito bem. É por isso que tem coragem.
Chico cruzou os braços, pensativo.
— Mas por quê?
O pai respondeu com calma:
— Porque o poder deles vem do descanso. É dormindo que eles recuperam energia para salvar o dia seguinte.
Chico olhou para a própria capa.
— Eu queria ter muito poder também…
— Então precisa descansar igual a eles.
Chico caminhou até o sofá e sentou ao lado do pai.
— Mas eu não sei descansar direito.
— Eu posso te ajudar — disse o pai, abrindo espaço para ele. — Quer aprender?
Chico balançou a cabeça afirmando.— Primeiro — disse o pai — o herói senta ou deita num lugar tranquilo.
Chico deitou no colo do pai.
— Assim?
— Perfeito. Agora o herói respira quietinho… bem fundo.
Chico inspirou e soltou o ar devagar.
— Já tô parecendo herói?
— Já, sim. Só falta uma coisa.
— O quê? — perguntou Chico, curioso.
— Fechar os olhos. Herói com olho aberto não descansa.
Chico fechou um olho… depois o outro… e abriu novamente.
— Pai, ainda tô forte?
— Está. E vai ficar mais forte ainda quando o sono chegar.
Chico sorriu e fechou os olhos outra vez.
O pai fez carinho em seus cabelos.
— Pai…
— Hm?
— Quando eu dormir… eu vou acordar mais herói?
— Vai acordar descansado. E descansar é o jeito que os heróis crescem.
Chico respirou devagar.
O corpo dele foi ficando molinho, como se a capa pesasse menos.
— Pai…
A voz dele já vinha baixinha.
— Tô… com um pouquinho de sono…
— Isso é bom — disse o pai. — Sinal de que seus poderes estão carregando.
Chico não respondeu.
Os olhos fecharam de verdade.
O pai ajeitou a capa sobre ele, como um cobertor.
— Boa noite, meu pequeno herói — sussurrou.
E no silêncio tranquilo da sala, Chico descansou como os maiores heróis descansam.
Continua…
