Nem sempre o melhor guia é quem fala.

O dia amanheceu claro e o cheiro de café se espalhava pelo acampamento.
Chico acordou antes do pai, calçou as botas e saiu devagar, curioso com o som dos pássaros e o barulho da água correndo ao longe.
— Hoje eu vou até a floresta distante — disse baixinho, para si mesmo.
Seguiu pela trilha de pedras, onde o orvalho ainda brilhava.
De repente, ouviu um latido curto.
— Oi? Tem alguém aí? — perguntou, olhando em volta.
Um cachorro apareceu entre os arbustos. Tinha o pelo dourado e o olhar atento. O rabo balançava como se dissesse “Oi, eu te esperava!”.
— Ei, amigão! — disse Chico, ajoelhando-se. — Qual é o seu nome?
O cachorro latiu outra vez, alegre.
— Tintim? — arriscou Chico. — Posso te chamar de Tintim?
O cachorro abanou o rabo mais forte, como quem concorda.
— Então tá combinado, Tintim. — Chico sorriu. — Quer ser meu guia hoje?
Tintim deu uma volta em torno dele e saiu trotando pela trilha, olhando pra trás de vez em quando.
— Tá bom, tô indo! — disse Chico, rindo.
Caminharam por um bom tempo. O som do rio ficou mais forte, e logo estavam diante de uma cachoeira alta, que caía como um véu de cristal.
Chico deixou as mãos tocarem a água fria.
— Sabe, Tintim, eu tô procurando uma árvore.
O cachorro virou a cabeça de lado, curioso.
— É pra minha árvore do quintal — explicou. — Ela tá sozinha. O galho que segurava meu balanço caiu… acho que ela ficou triste.
Tintim deu um latido suave, como se entendesse.
— É, eu sei que parece bobo — continuou Chico. — Mas toda árvore deve gostar de ter companhia. Igual a gente, né?
Tintim correu até um arbusto, pegou um galho seco e trouxe pra Chico, deixando aos seus pés.
— Pra mim? — perguntou ele, surpreso. — Ou pra ela?
O cachorro apenas abanou o rabo.
Chico riu.
— Então é pra ela. Quando eu voltar, vou plantar um amigo pra minha árvore. Prometo.
Continuaram a caminhada. Passaram por pedras cobertas de musgo, trilhas estreitas e pontes de tronco.
Tintim sempre seguia na frente, atento, como se conhecesse cada caminho.
— Você é mesmo um bom guia, sabia? — elogiou Chico.
O cachorro latiu, feliz, e correu adiante.
De repente, chegaram a uma clareira imensa. No centro, uma árvore tão alta que parecia tocar o céu. Suas folhas formavam uma sombra redonda e serena.
Chico olhou encantado.
— Tintim… será que é ela? A árvore que minha árvore esperava?
O vento soprou devagar, levantando folhas ao redor deles.
Tintim sentou-se ao lado de Chico, em silêncio.
Parecia dizer: Amanhã, você vai descobrir.
Chico respirou fundo, sentindo o cheiro da floresta.
— Amanhã a gente volta aqui, tá? — disse, coçando a orelha de Tintim. — Acho que estamos perto do fim da aventura.
O cachorro deitou-se na grama, tranquilo.
O sol já se escondia quando eles voltaram para o acampamento.
E, enquanto as estrelas surgiam, Chico pensava em como às vezes o destino envia guias diferentes — alguns de quatro patas e coração enorme.
Continua…
