Um lugar perdido no tempo, onde flores guardam segredos do passado.

A chuva tinha caído mansinha durante toda a tarde.
Quando o sol resolveu voltar, o ar ficou cheirando a terra molhada e folhas frescas — o cheiro de aventura que Chico mais gostava.
Fubá apareceu na janela, sacudindo as patinhas molhadas.
— Ih, tá todo encharcado, Fubá! — disse Chico, pegando uma toalha. — Vem cá, deixa eu te secar antes que o pai ache que a casa virou abrigo de gato!
Fubá ronronou alto, como quem acha graça. Depois de seco, pulou para o parapeito e olhou para o fundo do quintal.
— Que foi? — perguntou Chico. — Tá vendo um passarinho?
O gato olhou fixo para um portão de ferro meio escondido entre trepadeiras. Chico piscou.
— Ué… eu nunca reparei nesse portão antes.
Fubá miou e saltou lá pra fora, rápido.
— Espera! — gritou Chico, indo atrás.
O portão rangeu alto quando ele empurrou. Do outro lado, o tempo parecia ter parado.
Um jardim esquecido dormia ali — com flores misturadas, brinquedos velhos e um balanço que ainda rangia devagar com o vento.
— Nossa, Fubá… que lugar é esse? — sussurrou Chico, encantado.
O gato caminhava adiante, como se soubesse o caminho.
Chico o seguiu, desviando de galhos e folhas.
De repente, tropeçou em algo metálico.
— Ai! O que é isso? — perguntou, ajoelhando-se. Era uma latinha enferrujada, meio enterrada.
Ele abriu com cuidado e dentro havia botões coloridos, um carrinho de madeira e uma bolinha de gude azul.
— Parece um tesouro de criança… — disse Chico, sorrindo. — Será que esse lugar era o quintal de alguém, Fubá?
O gato respondeu com um “miau” baixo, andando em círculos, farejando o ar.
Então, Chico viu algo pendurado no galho de uma árvore: uma fotografia velha, presa com um prendedor.
Na foto, uma criança segurava um gato igualzinho a Fubá.
Chico gelou por um instante.
— Fubá… será que… você já morou aqui? — perguntou, quase num sussurro.
O gato o olhou nos olhos e deu uma leve cabeçada em sua mão, como quem diz “talvez”.
Chico sorriu.
— Então é por isso que você quis me trazer aqui, né? Pra me mostrar sua história.
Sentou-se no balanço, com Fubá no colo. O vento balançava devagar, e o jardim parecia respirar de novo, acordando do esquecimento.
— Prometo que a gente volta mais vezes — disse Chico. — Esse lugar merece companhia.
Fubá ronronou, e o som se misturou ao canto dos grilos e ao balanço rangendo.
Era como se o jardim, enfim, tivesse voltado a sorrir.
Continua…
