O Mundo dos Sonhos

O começo de uma viagem que só aparece quando Chico fecha os olhos.

Chico e o Mundo dos Sonhos

O dia estava terminando, mas Chico ainda corria pela sala com seu carrinho azul.

— Chico, já está escurecendo… — disse o pai, sorrindo do sofá.

— Só mais uma volta! — respondeu Chico, acelerando o carrinho no chão.

— Você já deu umas vinte voltas — brincou o pai. — O carrinho deve estar cansado.

Chico riu.

— Carrinho não cansa, pai. Eu também não!

O pai se levantou devagar e caminhou até ele.

— Vem cá, campeão. Quero te contar uma coisa.

Chico parou, ainda segurando o carrinho.

— O quê?

— Você sabia que existe um lugar que só aparece quando a gente fecha os olhos?

Chico abriu os olhos ainda mais.

— Como assim? Onde?

— É o Mundo dos Sonhos — disse o pai, agachando-se. — Ele fica esperando você descansar para poder abrir a porta.

Chico pensou por alguns segundos.

— Mas eu não sei entrar lá.

— Sabe, sim. Todo mundo sabe. A gente só esquece às vezes. Quer que eu te ensine?

Chico assentiu, pequeno e curioso.

O pai pegou sua mão, desligou as luzes da sala e os dois foram juntos para o quarto.

— Primeiro — disse o pai — a gente deixa o corpo bem quietinho.

Chico se deitou e tentou ficar imóvel… por três segundos.

— Assim, pai? Assim?

— Quase — riu o pai. — Agora respira bem fundo.

Chico encheu o peito e soltou o ar fazendo barulho.

— Pffffff…

— Muito bem. Agora vem a parte mais importante:

O pai se sentou ao lado dele na cama.

— Feche os olhos devagarinho, como quem fecha uma porta sem fazer barulho.

Chico fechou um olho. Depois o outro. Depois abriu os dois de novo.

— Pai! Eu ainda não entrei!

— Calma, campeão. Não é uma porta rápida. É daquelas que abrem devagar, tipo mágica.

Chico tentou de novo.

Fechou os olhos. Respirou fundo. As mãos pararam de se mexer.

— Pai… — murmurou ele, baixinho. — Acho que tô ouvindo alguma coisa…

— O que você está ouvindo?

— Parece vento… e… e um lugar grande…

O pai sorriu.

— Isso é o Mundo dos Sonhos chamando você.

Chico abriu um olho, desconfiado.
— Pai… você vai comigo?
— Sempre. Eu fico aqui do seu lado enquanto você descansa. Quando acordar, me conta tudo o que viu lá.

Chico fechou os olhos outra vez, mais tranquilo agora.

— Pai?
— Sim, meu filho?
— É legal lá?
— Muito. E cada dia é diferente. Tem sonhos que ensinam, tem sonhos que brincam… e todos ajudam você a ficar mais forte e feliz.

Chico respirou fundo.
O corpo dele ficou leve.

— Então eu vou… — disse ele, com a voz já molinha.

O pai ajeitou o cobertor sobre ele e fez um carinho em sua cabeça.

— Boa viagem, campeão. O Mundo dos Sonhos está esperando.

Chico não respondeu.

Os olhos dele já estavam fechados.

E, dessa vez, a porta se abriu.

Continua…