Nos primeiros dias de aula, Chico descobre a força de uma amizade inesperada.

Nos primeiros dias de aula, Chico andava devagar pelos corredores. O mundo novo cheirava a lápis apontado e chão encerado, e as vozes em volta pareciam vento dentro de uma concha.
Ele sentava no canto da sala, segurando firme o estojo como quem segura uma bússola. E, quando a professora perguntava algo, respondia com os olhos. No recreio, ficava perto da árvore, olhando os outros como quem vê um rio passar, sem coragem de molhar os pés.
— “Você conheceu alguém hoje?” — perguntava o pai, enquanto fechava a lancheira com cuidado.
Chico só dava de ombros. À noite, desenhava no caderno as coisas que via, as que sentia, e as que ainda não sabia muito bem como chamar.
Mas foi numa quarta-feira, entre um lápis roxo e uma borracha com cheiro de morango, que tudo começou a mudar.
— “Posso sentar aqui?” — perguntou uma voz tímida.
Era Nina. Tinha dentes faltando, sardas no nariz e a coragem que escorrega no riso de quem já caiu do escorregador sem chorar.
Chico deu espaço, dividiu o apontador e, sem perceber, também dividiu a espera. Jogaram juntos no recreio, riram do lanche amassado, inventaram um idioma só deles.
Naquela noite, Chico desenhou de novo. Agora, ao lado do sol e das árvores do recreio, havia uma menina com tranças que pulavam.
Com letras pequenas, escreveu:
“Hoje fiz uma amiga. O nome dela é Nina.”
Antes de dormir, mostrou o desenho ao pai, que olhou com olhos de quem entende que crescer é também aprender a abrir espaço no coração.
— “Ela parece ser uma boa amiga.”
— “Ela é.” — respondeu Chico.
— “E amanhã?”
— “Amanhã a gente vai brincar de construir um planeta.”
E dormiu com um sorriso que nem o travesseiro conseguiu apagar.
Fim.