Quando o balanço caiu, algo dentro dele despertou.

O sol mal tinha aparecido quando Chico ouviu um som seco lá fora — um tóim seguido de um tum!
Correu até a janela e viu o balanço de pneu caído no chão. O galho da velha árvore do quintal havia se partido.
— Ah não… — murmurou ele, saindo descalço para o gramado ainda úmido de orvalho.
O pneu balançava devagar, preso só por um pedaço da corda. A árvore, que antes parecia sorrir, agora estava quieta.
Chico passou a mão no tronco.
— Você tá bem, árvore?
O vento soprou leve, como se respondesse num sussurro. As folhas se mexeram devagar, quase tristes.
— Foi esse galho que segurava o balanço… — disse Chico, olhando para o chão. — Você sempre me aguentou, mesmo quando eu pulava alto demais.
Silêncio. Só o canto distante dos passarinhos.
— Acho que você ficou sozinha, né? — perguntou ele, encostando a testa no tronco. — É… eu também ficaria triste.
Chico sentou ao lado da árvore. Observou as raízes que saíam da terra, firmes e antigas.
— Por que será que não tem outra árvore aqui? — pensou em voz alta. — Será que você sente falta de alguém?
Uma folha caiu bem devagar, pousando em seu ombro.
Ele sorriu.
— Eu entendi. Você quer um amigo.
Chico levantou-se decidido.
— Então eu vou te arrumar um! — disse, olhando firme para o céu. — Uma árvore que faça companhia pra você.
De repente, o vento soprou mais forte. As folhas tilintaram como se batessem palmas.
— É um combinado, tá? — falou Chico, com o dedo apontado pra cima. — Eu prometo.
Voltou pra dentro de casa com o pneu nas mãos. Ia precisar de corda nova, mas, antes disso, precisava de um plano.
Enquanto amarrava o pedaço solto, ficou imaginando como seria o amigo perfeito para sua árvore:
— Uma árvore alta, com galhos que tocam o céu… ou uma baixinha, com flores cheirosas…
De repente, ele sorriu.
— Acho que vou ter que procurar longe. Bem longe.
E assim, no quintal de casa, nasceu o desejo de uma grande aventura — uma viagem até onde o vento dorme e as árvores contam segredos.
A árvore, silenciosa, parecia ouvir.
E, se alguém olhasse com atenção, juraria que o tronco antigo se curvava levemente… como quem agradece.
Continua…
