Depois da tempestade, o mundo renasce sob os passos da infância.
A chuva tinha ido embora, mas o mundo ainda parecia acordar devagar.
O ar cheirava a terra fresca, e pequenas poças brilhavam como espelhos espalhados pelo quintal.
Chico encostou o rosto na janela e sorriu — o sol já espiava tímido por trás das nuvens, e aquilo só podia significar uma coisa: aventura lá fora.
— “Pai! Já parou de chover!” — gritou, animado.
— “Então é hora de explorar o novo mundo,” respondeu o pai, rindo.
Chico calçou sua capa amarela, mas esqueceu as galochas de propósito.
Queria sentir a lama fria entre os dedos dos pés, ouvir o barulhinho gostoso da água escapando das folhas. Cada passo era um splash, cada pulo, uma risada que o vento levava.
Pé de Pano foi o primeiro a ganhar vida. De pano e orelhas caídas, parecia galopar sobre as poças. O Coelho Cenoura veio logo atrás, pulando tão alto que quase sumiu atrás do balde.
A Princesa Rosa, com um vestido improvisado de papel alumínio, brilhava com os raios do sol. E o Capitão Pirata, firme em sua tampa de panela, navegava numa poça profunda, seu “mar” particular.
— “Todos a bordo!” — gritou Chico, com uma folha de bananeira na mão. — “O navio vai zarpar para o Reino do Arco-Íris!”
O vento soprou e o barquinho de folha deslizou pela água. Pé de Pano latiu (ou parecia latir) de alegria, enquanto o Capitão Pirata gritava “Terra à vista!”
A Princesa Rosa apontava para o céu, onde o sol abria caminho entre as nuvens. Lá, bem no alto, nascia um arco-íris enorme, colorido e silencioso.
Chico parou. Ficou olhando, sem dizer nada.
Sentiu um frio bom na barriga — como se tivesse encontrado um tesouro que só aparece para quem sabe esperar o fim da chuva.
O pai se aproximou, com os pés também molhados.
— “Bonito, né, comandante?”
Chico assentiu, segurando firme o barco de folha.
— “Acho que é o presente da chuva pra gente.”
E foi assim, com os pés sujos de barro e o coração limpo de alegria, que Chico descobriu: às vezes, o dia mais bonito começa logo depois que a tempestade vai embora.
Fim.